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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Objeto da ética (Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I)


Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I
Tema – Objeto da ética
Principal Bibliografia utilizada:não identificada;
Aula 03


Objeto da ética
Problemas morais e problemas éticos
Os indivíduos precisam pautar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas; são aceitas intimamente e reconhecidas como obrigatórias. O homem age moralmente, a resultado de uma decisão refletida. Tanto os atos quanto os juízos morais pressupõem certas normas que apontam o que se deve fazer: denunciar o seu amigo traidor, pressupõe a norma os interesses da pátria devem ser postos acima dos da amizade.
De fato, o comportamento humano prático-moral remonta até as próprias origens do homem como ser social. Os problemas propostos pela moral prática, vivida, assim como as suas soluções, constituem a matéria de reflexão, o fato ao qual a teoria ética deve retornar constantemente para que não seja uma especulação estéril, mas sim a teoria de um modo efetivo, real, de comportamento do homem. Dá-se-assim a passagem da moral efetiva, vivida, para a moral reflexa. Essa passagem (início do pensamento filosófico) nos coloca na esfera dos problemas teórico-morais ou éticos.
Os problemas éticos são caracterizados pela sua generalidade. Se o indivíduo concreto enfrenta uma determinada situação, deverá resolver por si mesmo, com a ajuda de uma norma que reconhece e aceita, o problema de como agir de moralmente valiosa. A ética poderá dizer o que é um comportamento pautado por normas, ou em que consiste o fim (bom) visado pelo comportamento moral. Aristóteles se propõe o problema teórico de definir o que é o bom; investigar o conteúdo do bom, mas esta investigação teórica não deixa de ter conseqüências práticas, pois traça um caminho geral.
 Neste sentido, a teoria pode influir no comportamento moral-prático. As respostas sobre o que é o bom variam: para uns, é a felicidade ou o prazer, para outros, o útil, o poder, a autocriação do ser humano. Outros problemas éticos fundamentais são como o de definir a essência ou os traços essenciais do comportamento moral, à diferença de outras formas de comportamento humano (como a religião). O problema da essência do ato moral envia ao problema da responsabilidade; o problema da liberdade da vontade, por isso, é inseparável do da responsabilidade. Os homens em seu comportamento prático-moral, formulam juízos de aprovação ou de reprovação.
O problema metaético fundamental é examinar se se podem apresentar razões ou argumentos, para demonstrar a validade de um juízo moral e das normas morais. Os problemas teóricos e os problemas práticos, se diferenciam, mas não estão separados .
Campo da ética

De caráter prático, enquanto disciplina teórica tentou-se ver na ética uma disciplina normativa, cuja função fundamental seria a de indicar o melhor comportamento do ponto de vista moral. O ético transforma-se assim numa espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade. Mas a função fundamental da ética é a mesma de toda teoria: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes. Por outro lado, a realidade moral varia historicamente e, com ela, variam os seus princípios e as suas normas. Mas o campo da ética nem está à margem da moral efetiva, nem tampouco se limita a uma determinada forma temporal e relativa da mesma.
O valor da ética como teoria está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas. Limita-se o domínio da ética aos problemas da linguagem e do raciocínio moral, embora as questões sobre a linguagem, natureza e significado dos juízos morais tenham uma grande importância (estudadas na metaética), não podem ser as únicas questões tratadas na ética e nem abordadas inde-pendentemente dos problemas éticos fundamentais. Não lhe cabe formular juízos de valor sobre a prática moral de outras sociedades, mas deve, antes, explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de moral. A ética parte do fato da existência da história da moral. A ética estuda uma forma de comportamento humano que os homens julgam valioso e, além disto, obrigatório e inescapável; a ética deve fornecer a compreensão racional de um aspecto real, efetivo, do comportamento dos homens.
Definição de ética
A ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética que os estabelece numa determinada comunidade. A ética depara com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais. A ética é ciência de uma forma específica de comportamento humano. Seu objeto: o setor da realidade humana que chamamos moral, constituído por um tipo peculiar de fatos ou atos humanos. Parte de dados empíricos. Deve aspirar à racionalidade e objetividade mais completas e deve proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e comprováveis.
A ética é a ciência da moral. A moral não é ciência, mas objeto da ciência; e, neste sentido, é por ela estudada e investigada. A ética não é a moral, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições;
Moral vem do latim mos ou mores, "costume" ou "costumes", no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. Ética vem do grego ethos, que significa analogamente "modo de ser" ou "caráter" enquanto forma de vida também adquirida ou conquistada pelo homem.
Ética e filosofia
Na negação de qualquer relação entre a ética e a ciência se quer basear a atribuição exclusiva da primeira à filosofia. A ética é apresentada como uma parte de uma filosofia especulativa, constituída sem levar em conta a ciência e a vida real. Esta ética filosófica preocupa-se mais em buscar a concordância com princípios filosóficos universais do que com a realidade moral no seu desenvolvimento histórico e real,
Em favor do caráter puramente filosófico da ética, as questões éticas constituíram sempre uma parte do pensamento filosófico. Os filósofos gregos não deixaram de tratar em grau maior ou menor destas questões, a filosofia se apresentava como um saber total que se ocupava praticamente de tudo. Mas, nos tempos modernos, lançam-se as bases de um conhecimento científico, vários ramos do saber se desprendem da filosofia para constituir ciências especiais com um objeto específico de investigação e com uma abordagem sistemática, metódica, objetiva e racional comum às diversas ciências.
Desta maneira, a ética tende a estudar um tipo de fenômeno que se verifica realmente na vida do homem como ser social e constituem o que chamamos de mundo moral; ao mesmo tempo, procura estudá-los não deduzindo-os de princípios absolutos ou apriorísticos, mas afundando suas raízes na própria existência histórica e social do homem. As importantes contribuições do pensamento filosófico neste terreno devem ser altamente valorizadas porque conservam a sua riqueza e vitalidade.
Uma ética científica pressupõe necessariamente uma concepção filosófica imanentista e racionalista do mundo e do homem, na qual se eliminem instâncias ou fatores extramundanos ou super-humanos e irracionais. As questões éticas fundamentais devem ser abordadas a partir de pressupostos filosóficos básicos, como o da dialética da necessidade e da liberdade. Mas a ética científica deve apoiar-se numa filosofia estreitamente relacionada com as ciências, e não numa filosofia especulativa. Vemos que se a moral é inseparável da atividade prática do homem (material e espiritual), a ética nunca pode deixar de ter como fundamento a concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total deste como ser social, histórico e criador.
A ética científica está estreitamente relacionada com a filosofia, embora não com qualquer filosofia.
Ética e outras ciências
Através de seu objeto a ética se relaciona com outras ciências.
 Assim, portanto, na medida em que os atos morais são atos de indivíduos concretos, por estes vividos ou interiorizados de acordo com a sua constituição psíquica, a ética não pode prescindir da ajuda da psicologia, entendida não-somente no sentido tradicional de ciência do psíquico consciente, mas também como psicologia profunda, ou dos fatores subconscientes que escapam ao controle da consciência e que não deixam de influenciar o comportamento dos indivíduos. Contudo, embora os atos morais tenham seu respectivo aspecto psíquico, a ética não se reduz à psicologia.
A ética apresenta também estreita relação com as ciências que estudam as leis que regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas. Entre estas ciências sociais, figuram a antropologia social e a sociologia.
O estudo do comportamento moral não pode exaurir-se no seu aspecto social e de que a ética não se reduz à sociologia. No estudo do comportamento dessas comunidades, entra também a análise de seu comportamento moral. Seus dados e conclusões assumem grande importância no exame das origens, fonte e natureza da moral. Os antropólogos conseguiram estabelecer relações entre a estrutura social de uma comunidade e o código moral que as rege, demonstrando assim que as normas que hoje, de acordo com nosso código moral atual, parecem em certos casos imorais correspondem a certa forma de vida social.
Se existe uma diversidade de morais não só no tempo, mas também no espaço, e não somente nas sociedades que se inserem num processo histórico definido, mas inclusive naquelas sociedades hoje desaparecidas que precederam as sociedades históricas, é preciso que a ética como teoria da moral tenha presente um comportamento humano que varia e se diversifica no tempo. O antropólogo social, de um lado, e o historiador, do outro, colocam a relatividade das morais, seu caráter mutável, sua mudança e sucessão de acordo com a mudança e a sucessão das sociedades concretas. A antropologia e a história, ao mesmo tempo que contribuem para estabelecer a correlação entre moral e vida social, propõem à ética um problema fundamental: o de determinar se existe um progresso moral.
A teoria do direito pode trazer semelhante contribuição, graças à sua estreita relação com a ética, visto que as duas disciplinas estudam o comportamento do homem como comportamento normativo.
A ética se relaciona com a economia política como ciência das relações econômicas que os homens contraem no processo de produção. Esta vinculação se baseia na relação efetiva, na vida social, entre os fenômenos econômicos e o mundo moral. É uma relação de dois planos: na medida em que as relações econômicas influem na moral cominante numa determinada sociedade; e na medida em que os atos econômicos não podem deixar de apresentar uma certa conotação moral.
Vemos, portanto, que a ética se relaciona estreitamente com as ciências do homem, ou ciências sociais: psicológico, social, prático-utilitário, jurídico, religioso ou estético. 

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