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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ética Grega (Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I)

Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I
Tema – Ética Grega
Principal Bibliografia utilizada:não identificada;
Aula 01

Ética Grega
Os problemas éticos são objetos na filosofia grega quando se democratiza a vida política (Atenas).
Ao naturalismo dos pré-socráticos (1º filósofos) apresenta uma preocupação com os problemas do homem, sobretudo políticos e morais. As novas condições do século V a.C. em muitas polis a substituição da aristocracia pela democracia escravista; a democratização da vida política, criação de instituições eletivas e o desenvolvimento de uma vida pública, deram origem à filosofia política e moral.
A Polis era composta por 1/3 de escravos, uma grande maioria de estrangeiros e mulheres, ou seja, pessoas que não participam da vida política. Cidadãos eram quase 10% da população; em Atenas, os cidadãos de reuniam na Aglas para discutir sobre a política.
Os Sofistas
Movimento intelectual na Grécia do século V a.C. Sofista significa amor pelo conhecimento; o mestre ou sábio. Eram estrangeiros que iam de Polis em Polis ensinando. Ambicionam um conhecimento prático, tendente a influir na vida pública, por esta razão, se transformam em mestres da arte de convencer, ou retórica; essa necessidade da retórica refletia a realidade da Polis, que exigia êxito na vida política, a arte de expor, argumentar ou discutir. Eles cobravam por isso, o que causou grande escândalo dos seus concidadãos, mesmo assim, não deixava de ter uma grande aceitação, até o ponto de converter os sofistas numa verdadeira força social.
O sofista reage contra o saber a respeito do mundo porque o considera estéril e se sente atraído especialmente por um saber a respeito do homem, particularmente político e jurídico. A arte de persuadir é desenvolvida e transmitida pondo em dúvida não só a tradição, mas a existência de verdades e normas universalmente válidas. Ensinavam que não existe nem verdade nem erro, e as normas, por serem feitas pelo homem, são transitórias.
Protágoras cai assim no relativismo ou subjetivismo (tudo é relativo ao sujeito, ao "homem, medida de todas as coisas"), e Górgias sustenta que é impossível saber o que existe realmente e o que não existe.
Sócrates
Adversário da democracia ateniense e mestre de Platão, foi acusado de corromper a juventude e condenado a beber cicuta, morrendo em 399. Igualmente os sofistas, depreza o conhecimento da natureza, crítica da tradição, mas rejeita o seu relativismo e subjetivismo. Para Sócrates, o saber fundamental é o saber a respeito do homem (daí a sua máxima: "conhece-te a ti mesmo"), que se caracteriza, por sua vez, por estes três elementos: 1) é um conhecimento universalmente válido (contra os sofistas); 2) é, antes de tudo, conhecimento moral; e 3) é um conhecimento prático (conhecer para agir retamente).
Sua ética é racionalista. Nela encontramos uma concepção do bem (como felicidade da alma) e do bom (como o útil para a felicidade;, a tese da virtude (areté - capacidade radical e última do homem ) como conhecimento, e do vício como ignorância (quem age mal é porque ignora o bem; por conseguinte, ninguém faz o mal voluntariamente); e a tese, de origem sofista, segundo a qual a virtude pode ser transmitida ou ensinada.
Em suma, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente. O homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz.
Platão
Também Ateniense, fora discípulo de Sócrates e, como este, inimigo da democracia ateniense. A Pena do seu mestre induzem-no a renunciar à política efetiva. A ética de Platão se relaciona intimamente com a sua filosofia política, porque para ele (como para Aristóteles) a polis é o terreno próprio da vida moral. A ética, assim como a política, depende da sua:
                                I.            Concepção metafísica - dualismo do mundo sensível e o das ideias permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituem a verdadeira realidade e têm como cume a Ideia do Bem, divindade, artífice ou demiurgo do mundo;
                              II.            Doutrina da alma - princípio que anima ou move o homem e consta de três partes: razão, vontade ou ânimo, e apetite; a razão que contempla e quer racionalmente é a parte superior, e o apetite, relacionado com as necessidades corporais, é a inferior.
Cria a teoria da reminiscência: o mundo das ideias e o mundo da realidade. Para ele, inicialmente teríamos um contato com as ideias perfeitas e imutáveis; ao nascer, passaríamos ao mundo da realidade. Nessa transição, o homem passa por uma amnésia, ficando apenas com um pequeno conhecimento, e por isso, quando se aprende algo está apenas recordando-se de algo, daquilo que esquecera na transição. Representa a ideia da alegoria da caverna, na qual o filósofo seria o responsável por “acordar” os outros.
Coloca a alma como, faculdade superior e característica do homem, que se eleva, mediante a contemplação, ao mundo das ideias. Seu fim último é purificar ou libertar-se da matéria para contemplar o que realmente é e a Ideia do Bem. Para alcançar tal purificação é preciso praticar várias virtudes, que correspondem a cada uma das partes da alma e consistem no seu funcionamento perfeito: a virtude da razão é a prudência; a da vontade ou ânimo, a fortaleza; e a do apetite, a temperança. Essas virtudes guiam ou refreiam uma parte da alma. A harmonia entre as diversas partes constitui a quarta virtude, justiça. Como o indivíduo por si só não pode aproximar-se da perfeição, torna-se necessário o Estado. A ética desemboca necessariamente na política.
Em A República, Platão constrói um Estado ideal à semelhança da alma. A cada parte desta, corresponde uma classe especial que deve ser guiada pela respectiva virtude: à razão, a classe dos governantes filósofos, guiados pela prudência -; ao ânimo ou vontade, a classe dos guerreiros, defensores do Estado, guiados pela fortaleza; e ao apetite, os artesãos e os comerciantes, encarregados dos trabalhos materiais e utilitários, guiados pela temperança. Cada classe social deve consagrar-se à sua tarefa especial e abster-se de realizar outras. De modo análogo ao que sucede na alma, compete à justiça social estabelecer na cidade a harmonia indispensável entre as várias classes. E, com o fim de garantir esta harmonia social, Platão propõe a abolição da propriedade privada para as duas classes superiores (governantes e guerreiros). Na ética platônica transparece o desprezo, característico da Antiguidade, pelo trabalho físico e, por isto, os artesãos ocupam o degrau social inferior e se exaltam as classes dedicadas às atividades superiores (a contemplação, a política e a guerra). Por outra parte, de acordo com as ideias dominantes e com a realidade política e social daquele tempo, não há lugar algum no Estado ideal para os escravos, porque desprovidos de virtudes morais e de direitos cívicos. Com estas limitações da classe, encontramos na ética de Platão a estreita unidade da moral e da política, dado que, para ele, o homem se forma espiritualmente somente no Estado e mediante a subordinação do indivíduo à comunidade.
Aristóteles
De Estagira, Macedônia, fora discípulo de Platão em Atenas e professor de Alexandre, o grande; Fundou a própria escola, o Liceu, cujos discípulos eram chamados de peripatéticos, porque aprendiam enquanto passeavam com o seu mestre.
Se opõe ao dualismo ontológico de Platão: não há outra realidade a não ser a que vivemos, sendo ela imperfeita e a morte é exemplo dessa perfeição; a ideia existe somente nos seres individuais. Mas, no ser individual, é preciso distinguir o que é atualmente e o que tende a ser, ou seja, o ato e a potência (o grão é planta em potência e a planta, como ato, é a realização definitiva da potência). A mudança universal é passagem da potência ao ato. Deu é o único que é ato puro, sem potência. Também o homem deve realizar com seu esforço o que é potência, para realizar-se como ser humano.
O homem é atividade, passagem da potência ao ato; essa atividade tem diversos fins, que servem para alcançar outros e que entram no campo da moral. Para Aristóteles, o fim de todos os homens é a felicidade, eudaimonia, que é conseguido por meio da razão; esta vida não se realiza acidental e esporadicamente, mas mediante a aquisição de certos modos constantes de agir (ou hábitos) que são as virtudes. Estas não são atitudes inatas, mas modos de ser que se adquirem ou conquistam pelo exercício e, já que o homem é ao mesmo tempo racional e irracional, é preciso distinguir duas classes de virtudes: intelectuais ou dianoéticas, que operam na razão humana, e práticas ou éticas, que operam no irracional (nas suas paixões e apetites, canalizando-os racionalmente).
Por sua vez, a virtude consiste no termo médio entre dois extremos: um excesso e um defeito. Assim, o valor está entre a os dois extremos, a virtude é um equilíbrio entre dois.
A felicidade, que se alcança mediante a virtude, exige necessariamente algumas condições (maturidade, bens materiais, liberdade pessoal, saúde etc.), embora estas condições não bastem sozinhas.
Assim como a ética de Platão, a de Aristóteles está unida à sua filosofia política, já que para ambos a comunidade social e política é o meio necessário da moral. Somente nela pode realizar-se o ideal da vida teórica na qual se baseia a felicidade. O homem enquanto tal só pode viver na polis; é, por natureza, um animal político, social. Somente os deuses ou os animais não têm necessidade da comunidade política para viver. Por conseguinte, não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas como membro da comunidade. Por sua vez, porém, a vida moral não é um fim em si mesmo, mas condição ou meio para a vida teórica na qual consiste a felicidade. Essa vida teórica que pressupõe a vida em comum é acessível só a uma minoria (elite), além de implicar uma estrutura social na qual a maior parte da população (os escravos) mantém-se excluída não só da vida teórica, mas da vida política. Por esta razão, a verdadeira vida moral é exclusiva de uma elite que pode realizá-la no âmbito de uma sociedade baseada na escravidão. Dentro desse âmbito, o homem bom (o sábio) deve ser, ao mesmo tempo, um bom cidadão.
Período Helenístico/Período Alexandrino - Estóicos e Epicuristas
O estoicismo e o epicurismo surgem no processo de decadência do império grego-romano, marcado pela perda de autonomia dos Estados gregos e pela organização, desenvolvimento e queda dos grandes impérios: primeiro o macedônio, e depois o romano. O estoicismo tem como seus principais representantes Zenão de Cítio, na Grécia, e Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio, em Roma; o epicurismo está representado por Epicuro, na Grécia, e por Tito Lucrécio Caro, em Roma.
Para ambos, a moral se define em relação ao universo, sobre o fundo da necessidade física, natural, do mundo. Por isto, em ambos, a física é a premissa da ética.
Para os estóicos, o mundo, ou cosmos é um único grande ser que tem Deus como princípio, alma ou razão, sendo aquele o seu animador ou coordenador. No mundo acontece somente o que Deus quer, e, assim, domina nele uma fatalidade absoluta; não existe nem liberdade nem acaso. O homem, como parte deste mundo, possui nele o seu destino, resta ao homem aceita-lo e agir consciente dele, essa é a atitude do sábio. O bem supremo é viver de acordo com a natureza, ou seja, de acordo com a razão, com consciência do nosso destino e de nossa função no universo, sem se deixar levar por paixões ou afetos interiores ou pelas coisas exteriores. Praticando para isso a apatia e a imperturbabilidade, o homem (o sábio) se firma contra as suas paixões ou contra os reveses do mundo exterior, e conquista a sua liberdade interior bem como sua autarquia (ou auto-suficiência) absoluta. Deixa de ser necessário a comunidade para a vida moral. O estóico vive moralmente como cidadão do cosmos, não da polis.
Para os epicuristas, tudo o que existe, incluindo a alma, é formado de átomos materiais que possuem um certo grau de liberdade, na medida em que se podem desviar ligeiramente na sua queda. Não há intervenção divina nos fenômenos físicos ou na vida do homem. Liberta-se do temor religioso, o homem pode buscar o bem neste mundo (que para eles era o prazer). Mas há muitos prazeres, e nem todos são igualmente bons; assim, é preciso escolher entre eles para encontrar os mais duradouros e estáveis, que são os espirituais; porque contribuem para a paz da alma. Em suma, epicurista alcança o bem, retirado da vida social, sem cair no temor do sobrenatural, encontrando em si mesmo, ou rodeado por um pequeno círculo de amigos, a tranquilidade da alma e a auto-suficiência.
Deste modo, na ética epicurista e estóica, que surgem numa época de decadência e de crise social, a unidade da moral e da política, sustentada pela ética grega anterior, se dissolve.

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