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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ética Cristã Medieval (Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I)


Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I
Tema – Ética Cristã Medieval
Principal Bibliografia utilizada:não identificada;
Aula 01
Ética Cristã Medieval
O cristianismo se eleva, transforma-se na religião oficial de Roma (séc. IV) e termina por impor o seu domínio durante dez séculos. Com a queda de Roma, surge a sociedade medieval e o regime de suserania e vassalagem. Caracteriza-se pela fragmentação econômica e política, devido aos feudos; a religião garante uma certa unidade social, porque a política está na dependência dela e a Igreja, instituição que vela pela defesa da religião, exerce plenamente um poder espiritual e monopoliza toda a vida intelectual. A moral concreta, efetiva, e a ética estão baseadas em conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval.
A Ética Religiosa
É a arte de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações d esse com Deus e do modo de vida prático que deve seguir para obter a salvação no outro mundo. Deus é concebido como um ser pessoal, bom, onisciente e todo-poderoso. O homem, como criatura de Deus, tem seu fim último em Deus, que é o seu bem mais alto e o seu valor supremo. Deus exige a sua obediência e a sujeição a seus mandamentos, que no mundo terreno têm o caráter de imperativos supremos.
O que o homem é e o que deve fazer definem-se essencialmente não em relação com uma comunidade humana (como a polis) ou com o universo inteiro, mas em relação a Deus. O homem vem de Deus e todo o seu comportamento, incluindo a moral, deve orientar-se para ele como objetivo supremo. A essência da felicidade (a beatitude) é a contemplação de Deus; o amor humano fica subordinado ao divino; a ordem sobrenatural tem a primazia sobre a ordem natural humana.
Também a doutrina cristã das virtudes expressa esta superioridade do divino. Embora assimile, como virtudes fundamentais, a prudência, a fortaleza, a temperança e a justiça, já proclamadas por Platão e que são as virtudes morais em sentido próprio, admite determinadas virtudes supremas ou teologais (fé, esperança e caridade). Enquanto as fundamentais regulam as relações entre os homens e são, por isto, virtudes em escala humana, as teologais regulam as relações entre o homem e Deus e são, por conseguinte, virtudes em escala divina.
O cristianismo pretende elevar o homem para uma ordem sobrenatural, para uma vida plena, feliz e verdadeira, sem as imperfeições, as desigualdades e injustiças terrenas. Propondo a solução de graves problemas do mundo num mais além, a ideia da igualdade dos homens. Todos os homens, sem distinção, são iguais diante de Deus e são chamados a alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural.
A ética cristã medieval não condena a desigualdade social e chega, inclusive, a justificá-la. A igualdade e a justiça são transferidas para um mundo ideal, enquanto aqui se mantém e se sanciona a desigualdade social. De fato, o cristianismo deu aos homens, pela primeira vez, incluindo os mais oprimidos e explorados, a consciência da sua igualdade, exatamente quando não existiam as condições reais, sociais, de uma igualdade efetiva, que passa historicamente por uma série de eliminações de desigualdades concretas (políticas, raciais, jurídicas, sociais e econômicas). Na Idade Média, a igualdade só podia ser espiritual, ou também uma igualdade para um mundo sobrenatural, ou ainda uma igualdade efetiva, mas limitada no nosso mundo real e algumas comunidades religiosas. Por isto, tinha de coexistir necessariamente com a mais profunda desigualdade social, enquanto não se criassem as bases materiais e as condições sociais para uma igualdade efetiva. Assim, a mensagem cristã tinha um profundo conteúdo moral na Idade Média, isto é, quando era completamente ilusório e utópico propor-se a realização de uma igualdade real de todos os homens.  
Contudo, a ética cristã tende a regular o comportamento dos homens com vistas a outro mundo (a uma ordem sobrenatural), colocando o seu fim ou valor supremo em Deus. Disto decorre que, para ela, a vida moral alcança a sua plena realização somente quando o homem se eleva a esta ordem sobrenatural; e daí decorre, também, que os mandamentos supremos que regulam o seu comportamento, e dos quais derivam todas as suas regras de conduta, procedem de Deus e apontam para Deus como fim último. O cristianismo como religião oferece assim ao homem certos princípios supremos morais que, por virem de Deus, têm para ele o caráter de imperativos absolutos e incondicionados.
Ética Cristã Filosófica
O cristianismo não é uma filosofia, mas uma religião. Apesar disto, faz-se filosofia na Idade Média para esclarecer e justificar, lançando mão da razão, o domínio das verdades reveladas ou para abordar questões que derivam das questões teológicas. A filosofia era serva da teologia; subordinando-se a filosofia à teologia, também se subordina a ética.
Assim verifica-se também uma ética limitada pela sua índole religiosa e dogmática. Nesta elaboração conceitual dos problemas filosóficos em geral, e morais em particular, submete pensamentos da antiguidade a uma cristianização, como com Platão e Aristóteles; transparece especialmente na ética de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino.
A purificação da alma, em Platão, e a sua ascensão libertadora até elevar-se às ideias, transforma-se em Santo Agostinho na elevação ascética até Deus, que culmina no êxtase místico ou felicidade, que não pode ser alcançada neste mundo. Contudo, Santo Agostinho se afasta do pensamento grego antigo ao sublinhar o valor da experiência pessoal, da interioridade, da vontade e do amor. A ética agostiniana se contrapõe ao racionalismo ético dos gregos.
A ética tomista coincide nos seus traços gerais com a de moral Aristóteles, sem esquecer, porém, que se trata de cristianizar a sua como, em geral, a sua filosofia. Deus, para Santo Tomás, é o bem objetivo ou fim supremo, cuja posse causa gozo ou felicidade, que é um bem subjetivo; nisto se afasta de Aristóteles, para quem a felicidade é o fim último. Mas, como em Aristóteles, a contemplação, o conhecimento (como visão de Deus) é o meio mais adequado para alcançar o fim último. Por este acento intelectualista, aproxima-se de Aristóteles.
Na sua doutrina político-social, atém-se à tese do homem como ser social ou político, e, ao referir-se às diversas formas de governo, inclina-se para uma monarquia moderada, ainda que considere que todo o poder derive de Deus e o poder supremo caiba à Igreja.

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